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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Poder Ultrajovem!!!!

Mais uma página para o desafio da Adliz. Escritos, dessa vez. Como sou uma leitora compulsiva, daquelas que lê até bula de remédio, encontrar fontes de inspiração foi fácil. Vocês já viram a outra página, que fiz inspirada na poesia Live, Laugh and Love. Agora me inspirei em um dos meus escritores favoritos, Carlos Drummond de Andrade (tenho todas as obras publicadas dele que pude conseguir). Vejam a página:

Eu maltratei tanto esse papel da Elsie que está irreconhecível. Lixei, sujei com chalk marrom, carimbei com papelão e espirrei tinta. Isso é que é distress nervoso (aprendi essa com Rommel).
Como inspiração, essa crônica do CDA, publicada no livro O Poder Ultrajovem e mais 79 Textos em Prosa e Verso de 1972.

No Restaurante



- Quero lasanha.
Aquele anteprojeto de mulher - quatro anos, no máximo, desabrochando na ultraminissaia - entrou decidido no restaurante. Não precisava de menu, não precisava de mesa, não precisava de nada. Sabia perfeitamente o que queria. Queria lasanha.
O pai, que mal acabara de estacionar o carro em uma vaga de milagre, apareceu para dirigir a operação-jantar, que é, ou era, da competência dos senhores pais.
- Meu bem, venha cá.
- Quero lasanha.
- Escute aqui, querida. Primeiro, escolhe-se a mesa.
- Não, já escolhi. Lasanha.
Que parada - lia-se na cara do pai. Relutante, a garotinha condescendeu em sentar-se primeiro, e depois encomendar o prato:
- Vou querer lasanha.
- Filhinha, por que não pedimos camarão? Você gosta tanto de camarão.
- Gosto, mas quero lasanha.
- Eu sei, eu sei que você adora camarão. A gente pede uma fritada bem bacana de camarão. Tá?
- Quero lasanha, papai. Não quero camarão.
- Vamos fazer uma coisa. Depois do camarão a gente traça uma lasanha. Que tal?
- Você come camarão e eu como lasanha.
O garçom aproximou-se, e ela foi logo instruindo:
- Quero uma lasanha.
O pai corrigiu:
- Traga uma fritada de camarão pra dois. Caprichada.
A coisinha amuou. Então não podia querer? Queriam querer em nome dela? Por que é proibido comer lasanha? Essas interrogações também se liam no seu rosto, pois os lábios mantinham reserva. Quando o garçom voltou com os pratos e o serviço, ela atacou:
- Moço, tem lasanha?
- Perfeitamente, senhorita.
O pai, no contra-ataque:
- O senhor providenciou a fritada?
- Já, sim, doutor.
- De camarões bem grandes?
- Daqueles legais, doutor.
- Bem, então me vê um chinite, e pra ela... O que é que você quer, meu anjo?
- Uma lasanha.
- Traz um suco de laranja pra ela.
Com o chopinho e o suco de laranja, veio a famosa fritada de camarão, que, para surpresa do restaurante inteiro, interessado no desenrolar dos acontecimentos, não foi recusada pela senhorita. Ao contrário, papou-a, e bem. A silenciosa manducação atestava, ainda uma vez, no mundo, a vitória do mais forte.
- Estava uma coisa, heim? - comentou o pai, com um sorriso bem alimentado. - Sábado que vem, a gente repete... Combinado?
- Agora a lasanha, não é, papai?
- Eu estou satisfeito. Uns camarões tão geniais! Mas você vai comer mesmo?
- Eu e você, tá?
- Meu amor, eu...
- Tem de me acompanhar, ouviu? Pede a lasanha.
O pai baixou a cabeça, chamou o garçom, pediu. Aí, um casal, na mesa vizinha, bateu palmas. O resto da sala acompanhou. O pai não sabia onde se meter. A garotinha, impassível. Se, na conjuntura, o poder jovem cambaleia, vem aí, com força total, o poder ultra-jovem.

Post quilométrico, mas o texto de Drummond vale a pena.

3 comentários:

Adliz Jamile disse...

Hahaha, AMEI Su, rs!!! Delicioso o texto e o LO nem se fala, né??? Muito legal!!!
Arrasou novamente!!!
Beijocas no coração, Adliz!

Janete Stella Behling disse...

Que fofura seu LO Suzana...adorei demais
Consegui finalmente passar por aqui e agradecer sua participação no meu bloguito...
Te espero sempre por lá...seja sempre bem vinda.
Um beijo

milkcan disse...

What a beautiful page!